“Pois a criança de botequim não conhece geração, época ou lugar. É
filho ou filha de boêmio e, em idade tida como imprópria e hora havida
como incorreta, acaba frequentando com o pai (ou a mãe) um meio em que
adultos bebem, conversam, riem, namoram, contam histórias, casam,
descasam, comemoram, lamentam. Um mundo que se abre diante de uma
criança entre perplexa e entediada, a quem procuram agradar com
revistas, lápis de cor e balas. E que finge entreter-se, destinando
aos adultos a sábia condescendência infantil.
A criança de botequim é, na verdade, cumulada de afeto, do afeto
possível do pai ou da mãe que, não resistindo aos apelos do
desregramento boêmio, precisam manter um vínculo com a vida dos
calendários e relógios.
Pois se a criança, quando no botequim, vive a solidão, pouco tempo
depois acaba assimilando alguns valores nada desprezíveis. Sabe, desde
cedo, que a vida só é rica com o encontro, com a troca, com a
conversa, com a disponibilidade. Descobre que o “fazer nada” do papo
furado é, quase sempre, um “fazer tudo”, exercício de inteligência.
Experimenta como a amizade, de botequim ou não, é um antídoto contra a
cretinice da vida. Lembra, para sempre, do pai ou da mãe como um amigo
próximo, com quem a qualquer momento você pode sentar e trocar idéias
de igual para igual, como sempre os viu fazer com os outros.”
-Paulo Roberto Pires
Espero me lembrar disso em breve.
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