segunda-feira, 18 de julho de 2011

Conversas Com Quem não Sabe o que é Amar



Sabe aquela história toda de amar, de não pensar em mais ninguém, de não querer mais nada a não ser estar com aquela pessoa? Aquele calor gélido na boca do estômago, os sorrisos inesperados e bem quistos, a inquietação do corpo e da alma. Todas essas coisas rotuladas por amar. Eu não creio mais. Mas houve um tempo em que todos acreditavam, até mesmo eu. Me lembro como se fosse ontem daqueles velhos rotos sonhos, das palavras nunca antes pronunciadas. Um tempo bom, onde todos sabiam crer. Com sol ou chuva, não importava, tudo era motivo para Carnaval, mesmo sabendo que a quarta-feira de cinzas estava por vir.

São as músicas que nessa época faziam mais sentido, eram de entendimento claro, entoando notas nunca dantes tocadas. Há quem diga que nunca mais ouviu notas como aquelas. Eu, por exemplo, nunca mais ouvi. Porém ouvir, é diferente de escutar, e escutar é opcional do coração.
É como ver um quadro e admirar uma obra de arte, é como sentir o gosto das coisas ou degusta-las, há um sutil abismo entre uma e outra.

Acordo todos os dias desejando escutar, admirar, degustar. Me deleito das tardes relembrando o quanto era bom esse tempo de tamanha beleza. E por fim, recosto a cabeça pesada de sonhos no travesseiro implorando para que nunca mais sinta nada parecido com aquilo. Na manhã seguinte permaneço na inércia infinita de manhã, de tarde e de noite.

Lembro-me de um tempo em que o cinema era para mim o maior refugio de pensar. Tarde de terça-feira, sala quase que vazia, cabeça quase transbordando, roda o filme e tudo se esvai.
Na saída um encontro com os velhos amigos, café e cigarro. No escuro da sala vazia ficavam pensamentos soltos, leves, desorientados e sem qualquer sentido. Ali jazia uma angustia qualquer.

Faz tanto tempo. Não sei se um ano ou dois, enfim, não quero saber, já basta saber que dói a tantos esquecidos. Ainda mantenho aquela estranha mania de reler e-mail antigos, de guardar aqueles trapos da época e de ler sempre o mesmo livro de poesia no meio da madrugada.



Maya Costa (24.06.2011)

Chuvas de Verão



"Há quem diga que se a primeira vez foi boa, se torna inesquecível."

Certa vez alguém me disse isso.
Quando eu tive a minha primeira vez, logo pensei naquele samba antigo que diz "Podemos ser amigos simplesmente, coisas do amor nunca mais". Claro que não pensei nisso tão logo.

Foi sem sombra de duvida um dos momentos mais lindos da minha vida. Ultrapassei os limites da dor, anestesiada talvez por algumas cervejas e cigarros. Eramos grandes companheiros, assim por dizer, não sei bem se amigos, talvez camaradas ou coisas afins. Amantes da arte, da boemia e das paixões momentâneas. É engraçado pensar na naturalidade dos acontecimentos na minha vida. Naquela noite São Paulo se tornou mais bonita vista da garupa de uma moto. A enorme quantidade de luzes e sons, os enormes arranha-céus, as ruas esburacadas que nos vaziam pular e rir, um sinal vermelho ultrapassado e o vento daquela noite quente de Fevereiro que fazia meu cabelo ficar mais bagunçado do que já era. Quem diria que uma conversa na mesa de um bar me levaria a tanto.

Aquela casa me fez ir por mares nunca dantes navegados. Me limitou apenas a viver, da maneira mais intensa possível. Naquela época eu não imaginava tudo que estaria por vir, e nem sequer almejava imaginar. Ainda me arrependo um pouco de não ter aproveitado mais o que a casa me oferecia, talvez eu tenha me deslumbrado demais com a intensidade dos acontecimentos, me perdi em mim mesma da maneira mais confusa possível, hoje eu entendo, ou não.

Em nostalgia às vezes me pego desejando que aquela noite volte, que aquela sensação volte, que eu possa sentir mais uma vez como é dar uma das poucas coisas que nos pertence sem dó nem piedade. Hoje em dia, eu só posso dar uma coisa que me pertence, o meu beijo, mas ele nem sempre é bem bem dado ou recebido. Para dar um bom beijo tem que saber, tem que ser merecido, não se pode esperar ganhar um beijo, nem pedir, tem que dar e pronto.

Na noite em que beijos foram a menor importância eu ouvi um samba. E só hoje eu entendo que ressentimento passam com o tempo, agora eu tenho calma.
Amigos simplesmente e nada mais.



Maya Costa (Quarta-Feira 29 de Junho de 2011)