domingo, 27 de novembro de 2011

Abuso de Poder Apimentado

Spray de pimenta ou gás-pimenta é um agente lacrimogénio (composto químico que irrita os olhos e causa lacrimejo, dor e mesmo cegueira temporária) usado pelas forças de segurança para controlo de distúrbios civis.



Depoimento de quem sofreu na pele o abuso de poder e o “tempero apimentado” da PM de são paulo.


Caros amigos, venho por meio desse blog compartilhar o acontecido dessa última madrugada do dia 27/11/11. Peço por favor, que deem a devida importancia ao fato. não estou escrevendo apenas para delatar o que eu sofri, mas também o que eu vi acontecer com muitas pessoas, em sua maioria, jovens.

Lá pelas quatro horas da manhã do dia 27 de novembro, estávamos eu, alguns amigos e chegados sentados conversando e bebendo na Rua Peixoto Gomide, travessa da Augusta e da Frei Caneca. Tudo corria na mais perfeita ordem até então. Pessoas conversavam, bebiam e se divertiam como manda o final de semana. Quando ouvimos uma explosão, na hora ninguém entendeu muito bem do que se tratava, continuamos sentados, até que vieram mais duas explosões seguidas. Olhei para o começo da rua e só vi uma fumaça branca, na mesma hora meu olho e minha boca começaram a arder, comecei a lacrimejar e a única reação, que foi em um todo, era correr. Não sei exatamente quantos jovens havia naquela rua e naquele momento. O pouco que a minha visão afetada pelo gás de pimenta conseguia enxergar era uma multidão que corria cada um para o seu lado. Alguns ainda se prestavam a orientar os outros para onde correr. Foi quando percebi que estávamos praticamente cercados. Viaturas passavam e jogavam bombas de efeito moral, que segundo histórias contadas no momento de euforia, teria acertado o braço de uma garota que ficou muito machucada. Dizem que ela foi levada por uma viatura, mas me limito a falar apenas do que eu presenciei.
Eram umas oitenta pessoas, para mais, subindo correndo até a Paulista pela Rua Frei Caneca. O desespero começava a tomar conta, perdi pessoas pelo caminho e as reencontrei de novo mais a frente. Era dificil manter um auto controle em uma situação que você é a minoria sendo atacada sem nem saber o por quê.
Ao chegar na esquina da Avenida Paulista com a Augusta, ainda tentando me recuperar da ardencia nos olhos e na boca, tentávamos descobrir se estava todo mundo bem e procurávamos mais informações do acontecido. E ai vai uma versão de por que a PM cercou aquela rua e “temperou” todo mundo com pimenta:
É de conhecimento geral que existem algumas gangues por ali, e que é muito comum acontecerem brigas entre eles. Punks, skins, nazi, etc. Pelo que eu pude ouvir, me parece que as pessoas já sabiam que haveria uma briga naquela madrugada, mas não que tomaria essa proporção. A polícia alega que estava nos defendendo, e eu me pergunto: me atacando para me defender?
Há também a hipótese de algum vizinho daquela redondeza ter denunciado algo, o que eu acho pouco provável.

De volta ao tumulto. A adrenalina não baixava. A indignação pelo abuso de poder e a violência gratuita com quem não tinha relação nenhuma com o caso só aumentava. Não sentia sono, não sentia fome, não sentia frio, só sentia um mix de raiva com um sentimento de injustiça. Não podiamos ficar ali esperando que no próximo fim de semana aconteça a mesma coisa. Alguém de fora precisava nós ouvir, alguém precisava contar para as pessoas o que viu lá em baixo. Juntei-me a mais uma amiga e fomos divulgar o acontecido para quem realmente se prestaria a ouvir, os manifestantes do ‘Ocupa Sampa’. repassei essa história umas dez vezes, sabíamos que ali nós teríamos algum apoio, seriamos finalmente ouvidos. Depois de passar essa informação para o maior número de pessoas, resolvemos voltar para verificar as quantas andavam as coisas por lá. Tudo parecia ter se acalmado, e aos poucos eu fui me acalmando também. Quando eram umas sete horas da manhã resolvemos ir até o vão do MASP tomar um café. E como se não bastasse todo esse tumulto, no meio do caminho escontramos com alguns punks discutindo com dois policiais. Ficamos de longe assistindo, e ali presenciamos cenas que eu jamais esqueço. Vimos um cara levar uma cabeçada de um policial simplesmente por tentar apasiguar as coisas. Estava acontecendo tudo de novo, mas dessa vez em plena luz do dia e em plena Avenida Paulista.
Estávamos prestes a ir embora e deixar aquela confusão com eles, quando um policial puxou uma garota que estava com a gente pelo colarinho. Nesse momento o sangue ferveu. Bater em uma garota já era o cúmulo! Enquanto eu tentava tira-la do meio da confusão outros garotos provocavam a polícia de maneira agressiva, o que eu já tinha certeza que não ia terminar bem. Só queria tira-la daquele lugar, e foi quando um PM olhou para mim e disse: “Tira essa tampinha daqui!”, e eu respondi: “Calma senhor, sem violência!”. Não deu tempo. Eu estava no final da frase quando ele jogou spray de pimenta dentro da minha boca e em cima de todas as pessoas que ali estavam. A raiva retornou mais forte ainda, a vontade era de sair quebrando tudo, mas eu tinha de me controlar, não podia perder o controle. A polícia vinha para cima agressivamente com cacetetes, gritando e mandando a gente ficar longe. Ameaçavam-nos com spray novamente, mas nessa altura do campeonato eu já não ligava para mais nada. Como podemos viver em uma sociedade em que, teoricamente, a polícia existe para te defender, mas no final das contas sabemos bem que isso não é verdade? Nesse instante passou o pensamento de que eu amanheceria o domingo na DP. Era como uma praga, a polícia estava em todos os lugares, tudo era motivo para ser agredido, já não dava mais pra respirar com aquele cheiro de pimenta. Das quatro da manhã até aquele momento o tempo voava. Não era fácil ficar ali de um lado para o outro tentando se proteger de qualquer ataque surpresa. E como se não bastasse a violência da polícia, alguns skinheads resolveram atacar em plena Rua da Consolação. A baderna estava formada mais uma vez. Parecia dia de encrenca, eram por todos os lados, coisas eram tacadas, garrafas, pedaços de madeira, entre outros objetos. Saber que um deles estava armado só piorava a situação, eu não queria ir embora, queria tirar as pessoas daquele lugar, mas ao mesmo tempo queria presenciar essas cenas que jamais serão mostradas no Jornal Nacional. E foi acontecendo assim. Polícia de um lado, skinheads do outro. Pura repressão. E eu me pergunto: Até quando? Até quando eu vou ter de me preocupar se vou ser atacada por bombas de efeito moral na mesa de um bar? Até quando todo mundo vai se calar diante da violência de gangues que tem como base o puro preconceito? Até quando eu vou suportar o abuso de poder? Até quando eu vou engolir pimenta?

O fato é, nada explica o ato de violência de ambas as partes. Que sejam penalizados aqueles que tem de ser penalizados. Mas que isso não respingue em pessoas de bem, que não fizeram nada para merecer. Generalizam-nos como marginais. É muito fácil atacar alguém que não tem como se defender.
Indignação, raiva e injustiça. É só isso que eu consigo sentir quando eu me lembro da madrugada passada. Não acabou hoje, nem vai acabar amanhã. Violência gera violência.
Continuo pensando e digerindo tudo...

Compartilhem por favor, se vocês conseguiram sentir um pouco do que eu e muitas pessoas passamos. Obrigada!


Maya Costa

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Aos Namorados do Brasil - C.D.A.



Dai-me, Senhor, assistência técnica
para eu falar aos namorados do Brasil.
Será que namorado algum escuta alguém?
Adianta falar a namorados?
E será que tenho coisas a dizer-lhes
que eles não saibam, eles que transformam
a sabedoria universal em divino esquecimento?
Adianta-lhes, Senhor, saber alguma coisa,
quando perdem os olhos
para toda paisagem ,
perdem os ouvidos
para toda melodia
e só vêem, só escutam
melodia e paisagem de sua própria fabricação?

Cegos, surdos, mudos - felizes! - são os namorados
enquanto namorados. Antes, depois
são gente como a gente, no pedestre dia-a-dia.
Mas quem foi namorado sabe que outra vez
voltará à sublime invalidez
que é signo de perfeição interior.
Namorado é o ser fora do tempo,
fora de obrigação e CPF,
ISS, IFP, PASEP,INPS.

Os códigos, desarmados, retrocedem
de sua porta, as multas envergonham-se
de alvejá-lo, as guerras, os tratados
internacionais encolhem o rabo
diante dele, em volta dele. O tempo,
afiando sem pausa a sua foice,
espera que o namorado desnamore
para sempre.
Mas nascem todo dia namorados
novos, renovados, inovantes,
e ninguém ganha ou perde essa batalha.

Pois namorar é destino dos humanos,
destino que regula
nossa dor, nossa doação, nosso inferno gozoso.
E quem vive, atenção:
cumpra sua obrigação de namorar,
sob pena de viver apenas na aparência.
De ser o seu cadáver itinerante.
De não ser. De estar, e nem estar.

O problema, Senhor, é como aprender, como exercer
a arte de namorar, que audiovisual nenhum ensina,
e vai além de toda universidade.
Quem aprendeu não ensina. Quem ensina não sabe.
E o namorado só aprende, sem sentir que aprendeu,
por obra e graça de sua namorada.

A mulher antes e depois da Bíblia
é pois enciclopédia natural
ciência infusa, inconciente, infensa a testes,
fulgurante no simples manifestar-se, chegado o momento.
Há que aprender com as mulheres
as finezas finíssimas do namoro.
O homem nasce ignorante, vive ignorante, às vezes morre
três vezes ignorante de seu coração
e da maneira de usá-lo.

Só a mulher (como explicar?)
entende certas coisas
que não são para entender. São para aspirar
como essência, ou nem assim. Elas aspiram
o segredo do mundo.

Há homens que se cansam depressa de namorar,
outros que são infiéis à namorada.
Pobre de quem não aprendeu direito,
ai de quem nunca estará maduro para aprender,
triste de quem não merecia, não merece namorar.

Pois namorar não é só juntar duas atrações
no velho estilo ou no moderno estilo,
com arrepios, murmúrios, silêncios,
caminhadas, jantares, gravações,
fins-de-semana, o carro à toda ou a 80,
lancha, piscina, dia-dos-namorados,
foto colorida, filme adoidado,,
rápido motel onde os espelhos
não guardam beijo e alma de ninguém.

Namorar é o sentido absoluto
que se esconde no gesto muito simples,
não intencional, nunca previsto,
e dá ao gesto a cor do amanhecer,
para ficar durando, perdurando,
som de cristal na concha
ou no infinito.

Namorar é além do beijo e da sintaxe,
não depende de estado ou condição.
Ser duplicado, ser complexo,
que em si mesmo se mira e se desdobra,
o namorado, a namorada
não são aquelas mesmas criaturas
que cruzamos na rua.
São outras, são estrelas remotíssimas,
fora de qualquer sistema ou situação.
A limitação terrestre, que os persegue,
tenta cobrar (inveja)
o terrível imposto de passagem:
"Depressa! Corre! Vai acabar! Vai fenecer!
Vai corromper-se tudo em flor esmigalhada
na sola dos sapatos..."
Ou senão:
"Desiste! Foge! Esquece!"
E os fracos esquecem. Os tímidos desistem.
Fogem os covardes.
Que importa? A cada hora nascem
outros namorados para a novidade
da antiga experiência.
E inauguram cada manhã
(namoramor)
o velho, velho mundo renovado.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

La Revolucion no será Televisada.

Somos dignos de protesto. Revolucionar é para todos, não difere classe social, a roupa que você veste ou o hino que você grita. Revolucionar está no sangue de quem não se acomoda. Como é fácil escrever sentada em um confortável sofá. Segue um depoimento de quem sentiu na pele o que é abuso de poder, de quem se sentiu julgado pela hipocrisia da mídia. Façamos revolução, seja como for, mas façamos POR FAVOR! "Não se acomodar com o que incomoda"

Maya Costa.


Desabafo de quem tava lá [Reintegração de Posse]

por Shayene Metri, terça, 8 de Novembro de 2011 às 23:10

Cheguei na USP às 3h da manhã, com um amigo da sala. Ia começar o nosso 'plantão' do Jornal do Campus. Outros dois amigos já estavam lá. A ideia era passar a madrugada lá na reitoria, ou pelas redondezas. 1) para entender melhor a ocupação, conhecer e poder escrever melhor sobre isso tudo. 2) para estarmos lá caso a PM realmente aparecesse para dar um fim à ocupação.
Conversa vai, conversa vem. O tempo da madrugava passava enquanto ficávamos lá fora, na frente da reitoria, conversando com alunos da ocupação. Alguns com posicionamentos bem definidos (ou inflexíveis), outros duvidando até das próprias atitudes. A questão é: os alunos estavam lá e queriam chamar atenção para a causa (ou as causas, ou nenhuma causa)...e, por enquanto, era só. Não havia nada quebrado, depredado ou destruído dentro da tão requisitada reitoria (a única marca deles eram as pixações). A ocupação era organizada, eles estavam divididos em vários núcleos e tinham medidas pra preservar o ambiente. Aliás, nada de Molotov.
Mais conversa foi jogada fora, a fogueira que aquecia se apagou várias vezes e eu levantei a pergunta pra alguns deles: e se a PM realmente aparecesse lá logo mais? Seria um tiro no pé dela? Ela sairia como herói? Os poucos que conversavam comigo (eram uns 4, além dos amigos da minha sala) ficaram divididos. "Do jeito que a mídia está passando as coisas, eles vão sair como heróis de novo", disse um. "Se ele vierem vai ter confronto e isso já vai ser um tiro no pé deles", disse outra. Mas, numa coisa eles concordavam: poucos acreditavam que a PM realmente ia aparecer.
Eu achava que a PM ia aparecer e muito provavelmente isso que me fez ficar acordada lá. Não demorou muito e, pronto, muita coisa apareceu. A partir daí, meu relato pode ficar confuso, acho que ainda não vou conseguir organizar tudo que eu vi hoje, 08 de novembro.
Muitos PMs chegaram, saindo de carros, motos, ônibus, caminhões. Apareceram helicópteros e cavalaria. Nem eu e, acredito, nem a maior parte dos presentes já tinham visto tanto policial em ação. Estávamos em 5 pessoas na frente da reitoria. Dois estudantes que faziam parte da ocupação, eu e mais 2 amigos da minha sala, que também estavam lá por causa do JC. Assim que a PM chegou, tudo foi muito rápido:

os alunos da ocupação que estavam com a gente sugeriram: "Corram!", enquanto voltavam para dentro da reitoria. Os dois amigos que estavam comigo correram para longe da Reitoria, onde a imprensa ainda estava se posicionando para o show. Eu, sabe-se lá por qual motivo, joguei a minha bolsa para um dos meninos da minha sala e voltei correndo para frente da reitoria, no meio dos policiais que avançavam para o Portão principal [e único] da ocupação.
Tentei tirar fotos e gravar vídeos de uma PM que estava sendo violenta com o nada, para nada. Os policiais quebravam as cadeiras no carrinho, faziam questão do barulho, da demonstração da força. Os crafts com avisos dos estudantes, frases e poemas eram rasgados, uma éspecie de símbolo. Enquanto tudo isso acontecia, parte da PM impedia a imprensa de chegar perto da área, impedindo que os repórteres vissem tudo isso. Voltando para confusão onde eu tinha me enfiado: os PMs arrombaram a porta principal, entraram (um grupo de mais ou menos 30, eu acho) e, logo em seguida, fecharam o portão. Trancaram-se dentro da reitoria com os alunos. Coisa boa não era.
Depois disso, o outro grupo de PMs,que impedia a mídia de se aproximar dessas cenas que eu contei , foi abrindo espaço. Quer dizer, não só abrindo espaço, mas também começando (ou fortalecendo) uma boa camaradagem para os repórteres que lá estavam atrás de cenas fortes e certezas.
"Me sigam para cá que vai acontecer um negócio bom pra filmar ali agora", disse um dos militares para a enxurrada de "jornalistas".
A cena era um terceiro grupo de PMs, arrombando um segunda porta da reitoria, sob a desculpa de que queria entrar. O repórter da Globo me perguntou (fui pra perto deles depois da confusão em que me meti com os policiais no início): "os PMs já entraram, não? Por que eles tão tentando por aqui também?". Respondi: "sim, já entraram. E provavelmente estão fazendo essa cena pra vocês terem algum espetáculo pra filmar" 
A palhaçada organizada pelos policiais e alimentada pelos repórteres que lá estavam continuou por algumas horas. A imprensa ia contornando a reitoria, na esperança de alguma cena forte. Enquanto isso, PM e alunos estavam juntos, dentro da Reitoria, sem ninguém de fora poder ver ou ouvir o que se passava por lá. Quem tentasse entrar ou enxergar algo que se passava lá na Reitoria, dava de cara com os escudos da tropa de choque, até o fim.
Enquanto amanhecia, universitários a favor da ocupação, ou contra a PM ou simplesmente contra toda a violência que estava escancarada iam chegando. Os alunos pediam para entrar na reitoria. Eu pedia para entrar na reitoria. Tudo que todo mundo queria era saber o que realmente estava acontecendo lá dentro. A PM não levava os estudantes da ocupação para fora e o pedido de todo mundo era "queremos algo às claras". Por que ninguém pode entrar? Por que ninguém pode sair?
Enquanto os alunos que estavam do lado de fora clamavam para entrar, ouvi de um grupo de repórteres (entre eles, SBT): "Não vamos filmar essas baboseiras dos maconheiros não! O que eles pedem não merece aparecer". Entre risadas, pra não perder o bom humor. Além dos repórteres que já haviam decidido o que era verdade ou não, noticiável ou não, tinham pessoas misturadas a eles, gritando contra os estudantes, xingando. Eu mesma ouvi muitas e boas como "maconheirazinha", "raça de merda" e "marginal" . 
Os estudantes que enfrentavam de verdade os policiais que faziam a 'corrente' em torno da Reitoria eram levados para dentro. Em questões de segundos, um estudante sumia da minha frente e era levado pra dentro do cerco. Para sabe-se lá o que.
Lá pras 7h30, depois de muito choro, puxões e algumas escudadas na cara, comecei a ver que os PMs estavam levando os estudantes da ocupação para dentro dos ônibus. Uma menina foi levada de maneira truculenta, essa foi a única coisa que meu 1,60m de altura conseguiu ver por trás de uma corrente da tropa de choque. Enquanto eu tentava entrar no cerco, para entender a história, a grande mídia já estava lá dentro. Fui conversar com um militar, explicar da JC. Ouvi em troca "ai, é um jornal da usp. De estudantes, não pode. Complica".
Os ônibus com os alunos presos saíram da USP. Uma quantidade imensa de outros alunos gritavam com a PM. Eu e os dois amigos da minha sala (aqueles da madrugada) pegamos o carro e fomos para a DP.
Na DP, o sistema era o mesmo e meu cansaço e raiva só estavam maiores. Enjoo e dor de cabeça, era o meu corpo reagindo a tudo que eu vi pela manhã. Alunos saiam de 5 em 5 do ônibus para dentro da DP. Jornalistas amontoados. Familiares chegando. Alunos presos no ônibus, sem água, sem banheiro, sem comida, mas com calor. Pelo menos por umas 3h foi assim.
Enquanto a ficha caia e eu revisualizava todo o horror da reintegração de posse, outras pessoas da minha sala mandavam mensagens para gente, de como a grande imprensa estava cobrindo o caso. Um ato pacífico, né Globo? Não foi bem isso o que eu vi, nem o que o JC viu, nem o que centenas de estudantes presenciaram.

Enfim, sou contra a ocupação. Sempre tive várias críticas ao Movimento Estudantil desde que entrei na USP. Nunca aceitei a partidarização do ME. Me decepciono com a falta de propostas efetivas e com as discussões ultrapassadas da maioria das assembléias. Mas, nada, nada mesmo, justifica o que ocorreu hoje. Nada pode ser explicação pra violência gratuita, pro abuso do poder e, principalmente, pela desumanização da PM.
Não costumo me envolver com discussões do ME, divulgar textos ou participar ativamente de algo político do meio universitário. Mas, como poucos realmente sabem o que aconteceu hoje (e eu acredito que muita coisa vai ser distorcida a partir de agora, por todos os lados), achei que valeria a pena escrever esse texto. Taí o que eu vi.


Shayene Metri  http://migre.me/66I6z  

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Vende-se Demagogia Barata





Não podemos negar que a internet tem dado o que falar e manifestar!


 Desde o seu inicio, soubemos que a internet seria de grande ajuda para o homem. Podemos nos comunicar a distância, trocar informações pelo mundo inteiro sem sair do lugar, conhecer pessoas de todos os cantos, enfim, uma variedade de coisas que se tornam cada vez mais infinitas. 
 A internet foi dada então como Terra De Ninguém. Onde não existia censura, repressão ou qualquer forma de real identificação. Fomos perdendo seu controle. E a fins de que a internet se tornasse uma coisa saudável, começou a ser "levemente" podada. Totalmente compreensível, claro! Com a febre dos sites pornôs, a pedofilia (pouco falada na época) começou a crescer. Um assusto importante, mas vedado e pouco falado pela mídia.
 Com o tempo a internet já não era mais tão segura, mas se tornou um ponto de partida para a diversão. Com o surgimento dos bate-papos simultâneos, das redes sociais, internet virou coisa para jovem, e daí em diante vocês já conhecem a história.

 Pois bem, não estou aqui para contar a história do surgimento da internet, nem muito menos falar dos seus prós e contras. Escrevo por um pensamento que me vem martelando a cabeça já faz um certo tempo. Concordamos que com a chegada do Facebook as pessoas se uniram mais em prol de muitas coisas. Tomo como exemplo a Marcha da Liberdade (18/06/2011), que reuniu cerca de 2 mil pessoas em uma caminhada que partia da Av. Paulista e tinha seu termino na Praça Oswaldo Cruz, Centro de São Paulo. Pude acompanhar virtualmente a organização e mobilização das pessoas para o manifesto, que acontecia devido a violência sofrida na tentativa de efetuar a Marcha da Maconha em São Paulo. Estudantes e jovens foram seriamente, e moralmente agredidos por policiais devido a acusação de uso de maconha durante a marcha (Da Maconha?). Desde então, todo e qualquer motivo está se manifestando via redes sociais. 
 Acredito nessa importância, e o quanto nós jovens desse país demoramos para tomar ciência disso. Hoje eu posso participar de uma manifestação onde quer que ela esteja, seja como seguidora virtual ou real. Mas vamos pensar no que está acontecendo, ou pelo menos no que eu estou enxergando acontecer. Mais uma vez, como é de costume do povo brasileiro, estamos nos acomodando com a ideia de poder manifestar virtualmente. Logo, toda e qualquer causa é válida. Podemos apoiar a Adoção de Animais, o Cuidado Com Crianças de Orfanatos, a Fome na Africa, etc... Mas será que podemos mesmo, de fato, apoiar tudo isso só pela internet? 
 Eu creio que não. Acredito que mover e incentivar as pessoas via internet é importante e faz uma grande diferença, mas ir para as ruas ainda é o ato principal e que está em falta. Como eu posso acreditar que estando na minha casa confortável na frente do meu belo computador, eu estou ajudando animais a serem adotados com um simples clique?! Por que não romper com essa corrente de preguiça e ir até uma Ong se candidatar a voluntário para cuidar disso? É tão mais humano, assim por dizer.
 Atualmente, estamos sofrendo um contraponto importante, e que eu espero que seja pensado por todos, assim como eu me fiz pensar. Nós só estamos vivendo uma realidade virtual? Todas essas manifestações atuais não passam de mera hipocrisia? 

 Hoje, via facebook, eu pude acompanhar uma movimentação eu diria um tanto quanto inútil. Uma espécie de corrente, em que você teria de mudar sua foto do profile, e assim, supostamente, estaria dando apoio ao abuso de crianças. Foi como uma peste e em instantes a maioria das pessoas estava participando. Vamos pensar, não dói. Uma atitude como essa não muda absolutamente nada, além da foto. Isso me faz pensar, será que as pessoas são tão manipuláveis assim? Ou é simplesmente o fato das pessoas continuares ALIENADAS, antes à TV, agora à Internet.


Continuo pensando...



Maya Costa

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Quem Sabe Um Talvez;





Alguém viu meu chinelo?


Estreitos laços de amizade que começam e terminam. O que há de ser da vida sem esses laços de inércia que trançam as pernas dos distraídos? Quem vê duvida que vai durar, quem vive, duvida que um dia pode acabar.
E quando eu digo camarada, que não há de ser nada, há de ser tudo. Quando o ciclo se completa, se finda de vez, os corações se derramam, choram, mas não de dor e sim de saudade. Saudosismo sentado na beira da cama fumando um cigarro.
A casa é ampla e a paixão modesta, sobra tanto abraço, tanta falta, tantos outros tantos. Onde quer que eu vá, sei que vou sozinha, à mim pouco me importa. Hei de ir sem olhar, apenas sentir. Sentir a falta, que falta boa é essa que eu guardo meu Deus. Eu só sei que volto, nem que seja só para dizer adeus, para rir, para dar aquele abraço que tá sobrando ali no cantinho junto com os livros.
Acorrentado a ninguém, assim sou eu, acorrentado ninguém pode amar. Quebro as correntes de preguiça e mal dizer que há entre nós. Prometa-me que não nos acomodaremos a nada, nem a nós mesmos.
Quando daqui algum tempo, eu bater em tua porta, direi-te "Eu disse que ia voltar". Chegar para te abraçar, como um pescador que volta para sua morena trazendo as conchinhas do mar, as pratas e os ouros de Yemanjá. 
Por enquanto, meu caro, me limito a escrever-te alguns versinhos de prosa. Prosa boa sempre tivemos, madrugadas à dentro de grandes pensadores, de palavras soltas no ar, um gole de cigarro e um trago de café, assim por dizer fui feliz. Não, não me diga adeus, não há sofrimento meu, não devemos nos separar. A saudade é cruel quando existe amor, portanto não me diga adeus. 
Hoje, sentada na varanda com os raios de sol queimando minha pele marcada, eu me recordei daquele nosso primeiro dia. E agora só tenho uma pergunta a fazer...

Alguém viu meu chinelo?










Maya Costa 

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Teus Olhos Bonitos

 
 
Teus olhos
São bonitos
Eles brilham


Nesse exacto momento
Se você olhar para o céu
Verá duas estrelas
Uma ao lado da outra
Elas brilham


Teu sorriso
É grande
Imenso
Ele brilha


Só de lembrar
Sorrio
Só rio
Ai que saudade de ti
 
Quando a boemia se aproximar
Eu serei mais feliz


Quem sabe eu o veja mais uma vez
Teus olhos
Teu sorriso


Eles brilham


Maya Costa


domingo, 28 de agosto de 2011

Supreendente e Interessante

À Noite Dissolve os Homens

A noite desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.

A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda, sem esperança...
Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.

E o amor não abre caminho na noite.
A noite é mortal, completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!
nas suas fardas.

A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.

Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.

Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.

O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.

Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.

O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio...

Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.



C.D.A.




Procurando inspiranção para escrever sobre você... vocês!



sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Podem me prender; Podem me bater; Mas eu não mudo de opinião




Revolução soa muito romântico, vocês sabem, mas não é. É sangue, culhão e loucura; é menininhos mortos que ficam no caminho, menininhos que não entendem porra nenhuma do que está acontecendo. É a sua puta, a sua mulher rasgada na barriga por uma baioneta e depois estuprada no cú enquanto você olha. É homens torturando homens que costumavam rir com as historinhas do Mickey Mouse . Antes de você entrar nesta coisa, decida onde está seu espírito e onde ele estará quando a coisa tiver terminado. Eu não acredito que nenhum homem tem o direito de tirar a vida de outro homem. Mas talvez mereça um pouco de reflexão antes. É claro, a porra é que eles têm tirado as nossas vidas sem disparar um tiro.
 
Charles Bukowski

Deleite



Olha só, mais uma vez, a gente se misturando feito leite e café
Eu nem sei mais qual é o meu braço
Abraço
Desfaço
Refaço

Como é bonito quando a gente se derrama um dentro do outro, não é?
Se come com os olhos, 
Se beija com a boca, 
Se prende com as pernas
Se afoga com os olhos...

Para nós, tudo é capaz de ser 
Serei... Serás... Seremos
Já dizia Pablo Neruda

Sejamos então
E que assim seja

Olha só mais uma vez a gente.


Maya Costa


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A Grande Fraude Que é Deus

Há quem fale em Deus; 
Aquele que castiga, que pune, que ensina.
Que raio de Deus é esse que faz as pessoas se sentirem culpadas, cheias de remorso, auto punição
Martela com força até fazer sangrar.


Vai Deus! Ensina alguma coisa então!
Você é o que tanto conforta, o que dá com uma mão e  tira com a outra
Eu não acredito em você; Não quero acreditar
Sendo assim, por favor se retire


Não é Deus, eu digo à ela
Mas essa flagelação conformada se acomoda
Ela sente necessidade de sofrer 
E tudo, por que crê


Foda-se Deus, foda-se a religião, foda-se essa droga de repressão que sofremos
Eu não acredito e ponto!
E eu não quero dentro da minha casa uma força que se diga maior e que a faça sofrer
Deixa ela em paz, o seu perdão divino não é bem vindo e quisto aqui dentro


Eu sou o meu Deus; Aprendi com uma pessoa
Então que assim seja.


Não é justo. Nada é.


Maya Costa

Ao Camarada com Carinho





Virtualmente somos monossilábicos
Há quem veja de longe e diga entre os dentes "Ah, mas eles não são tão amigos assim"


Sabe camarada, à mim pouco me importa
Somos terra, gostamos mesmo é de ver, sentir, pegar
Essa história toda de letras não é conosco 


Amizade de quem sente falta é;
De carne e osso
Olhos e pupilas
Voz e ouvido


Uma pausa para um  gole de cerveja;


O que a boemia uniu
Tempo nenhum jamais separa ou substitui


Pode-se fazer o homem pisar na lua
A moça virar o disco
O carteiro tropeçar na calçada 
Ou até mesmo inventar uma máquina de comunicação virtual


Pode o mundo estar para acabar
Mas lá estaremos nós, sentados em uma mesa de bar ouvindo aquele disco do Chico, juntos.



Maya Costa(Ao camarada Angelo Nunciarone)

sábado, 6 de agosto de 2011

Pétalos

Un poema para alguien que se viste de flores de pies a cabeza;

Con el mundo más hermoso que el de Alice
Con una mirada más cercana a un lince
Ella camina entre las hojas secas

Gotas de rocío caen de tu sonrisa
Ella lo mira, todo se ha ido

Ni más ni menos
Ella mira el mundo con los ojos para creer

Y cuando se ama, arroja todas las flores que cubren
Me encanta

Grita, salta, silbatos, los remolinos y las caídas en la central para dar vuelta

No puedo entender al hombre que un día no quieren más
Sólo puede estar loco

Este es un verso a mi amiga Julia; Me encanta.







Maya Costa

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Conversas Com Quem não Sabe o que é Amar



Sabe aquela história toda de amar, de não pensar em mais ninguém, de não querer mais nada a não ser estar com aquela pessoa? Aquele calor gélido na boca do estômago, os sorrisos inesperados e bem quistos, a inquietação do corpo e da alma. Todas essas coisas rotuladas por amar. Eu não creio mais. Mas houve um tempo em que todos acreditavam, até mesmo eu. Me lembro como se fosse ontem daqueles velhos rotos sonhos, das palavras nunca antes pronunciadas. Um tempo bom, onde todos sabiam crer. Com sol ou chuva, não importava, tudo era motivo para Carnaval, mesmo sabendo que a quarta-feira de cinzas estava por vir.

São as músicas que nessa época faziam mais sentido, eram de entendimento claro, entoando notas nunca dantes tocadas. Há quem diga que nunca mais ouviu notas como aquelas. Eu, por exemplo, nunca mais ouvi. Porém ouvir, é diferente de escutar, e escutar é opcional do coração.
É como ver um quadro e admirar uma obra de arte, é como sentir o gosto das coisas ou degusta-las, há um sutil abismo entre uma e outra.

Acordo todos os dias desejando escutar, admirar, degustar. Me deleito das tardes relembrando o quanto era bom esse tempo de tamanha beleza. E por fim, recosto a cabeça pesada de sonhos no travesseiro implorando para que nunca mais sinta nada parecido com aquilo. Na manhã seguinte permaneço na inércia infinita de manhã, de tarde e de noite.

Lembro-me de um tempo em que o cinema era para mim o maior refugio de pensar. Tarde de terça-feira, sala quase que vazia, cabeça quase transbordando, roda o filme e tudo se esvai.
Na saída um encontro com os velhos amigos, café e cigarro. No escuro da sala vazia ficavam pensamentos soltos, leves, desorientados e sem qualquer sentido. Ali jazia uma angustia qualquer.

Faz tanto tempo. Não sei se um ano ou dois, enfim, não quero saber, já basta saber que dói a tantos esquecidos. Ainda mantenho aquela estranha mania de reler e-mail antigos, de guardar aqueles trapos da época e de ler sempre o mesmo livro de poesia no meio da madrugada.



Maya Costa (24.06.2011)

Chuvas de Verão



"Há quem diga que se a primeira vez foi boa, se torna inesquecível."

Certa vez alguém me disse isso.
Quando eu tive a minha primeira vez, logo pensei naquele samba antigo que diz "Podemos ser amigos simplesmente, coisas do amor nunca mais". Claro que não pensei nisso tão logo.

Foi sem sombra de duvida um dos momentos mais lindos da minha vida. Ultrapassei os limites da dor, anestesiada talvez por algumas cervejas e cigarros. Eramos grandes companheiros, assim por dizer, não sei bem se amigos, talvez camaradas ou coisas afins. Amantes da arte, da boemia e das paixões momentâneas. É engraçado pensar na naturalidade dos acontecimentos na minha vida. Naquela noite São Paulo se tornou mais bonita vista da garupa de uma moto. A enorme quantidade de luzes e sons, os enormes arranha-céus, as ruas esburacadas que nos vaziam pular e rir, um sinal vermelho ultrapassado e o vento daquela noite quente de Fevereiro que fazia meu cabelo ficar mais bagunçado do que já era. Quem diria que uma conversa na mesa de um bar me levaria a tanto.

Aquela casa me fez ir por mares nunca dantes navegados. Me limitou apenas a viver, da maneira mais intensa possível. Naquela época eu não imaginava tudo que estaria por vir, e nem sequer almejava imaginar. Ainda me arrependo um pouco de não ter aproveitado mais o que a casa me oferecia, talvez eu tenha me deslumbrado demais com a intensidade dos acontecimentos, me perdi em mim mesma da maneira mais confusa possível, hoje eu entendo, ou não.

Em nostalgia às vezes me pego desejando que aquela noite volte, que aquela sensação volte, que eu possa sentir mais uma vez como é dar uma das poucas coisas que nos pertence sem dó nem piedade. Hoje em dia, eu só posso dar uma coisa que me pertence, o meu beijo, mas ele nem sempre é bem bem dado ou recebido. Para dar um bom beijo tem que saber, tem que ser merecido, não se pode esperar ganhar um beijo, nem pedir, tem que dar e pronto.

Na noite em que beijos foram a menor importância eu ouvi um samba. E só hoje eu entendo que ressentimento passam com o tempo, agora eu tenho calma.
Amigos simplesmente e nada mais.



Maya Costa (Quarta-Feira 29 de Junho de 2011)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Techo, tierra, trabajo, pan, salud, educación, independencia, democracia, libertad, justicia y paz.

"O jovem é o futuro da nação!" 
Dispenso ser o futuro de uma nação de marionetes, programado por programações de TV, manipulados pelas mãos imundas e hipócritas dos governantes que ainda se dizem nossos representantes. Aqui jaz a Liberdade de Expressão! Quem me representa sou eu e a minha ideologia. Podem me prender, podem me bater, podem até deixar-me sem comer que eu não mudo de opinião, não me acomodo ao que incomoda. O lixo cai sobre as nossas cabeças e nós nos conformamos felizes comendo uma batata do Mc Donald's. 
 Eu não me torno menos digno por que eu fumo maconha, minha opinião não vale menos. Criminalizam a maconha em vez da polícia que bate e espanca inocentes todos os dias. Todos que estavam na Marcha são filhos de um José e uma Maria por ai. Você cria o seu filho, ensina a ele tudo o que você sabe, dá educação, diz que ele tem que correr atras do seus sonhos, e quando ele faz isso vem um bando de "pé de bota" e na melhor da hipóteses atira balas de borracha, bombas de efeito moral... Quem tem o direito de julgar o que é certo e errado nesse país? A Ditadura que sempre esteve ai disfarçada em pele de Democracia, hoje sai distribuindo cartilha nas escolas contra o Homoxessualismo, EXATAMENTE, não conta a Homofobia, e sim contra o Homoxessualismo! Aonde a hipocrisia vai parar nesse país? Enquanto manifestantes que buscam a Legalização da Maconha e sua Descriminalização apanham nas ruas e são amordaçados pelos políticos, a prole do Regime Militar Neonazista manifesta-se impune e sem maiores problemas semanas antes do trágico acontecido com os jovens "futuros da nação". Que esteja dito que a injustiça não vai permanecer, vamos lutar onde for preciso, contra quem se colocar no nosso caminho não haverá violência, apenas argumentos, mas que fique claro que não vamos nos acomodar enquanto a Liberdade de Expressão não for para TODOS!



Maya Costa (25.05.2011 Quarta-Feira)







1ª MARCHA DA LIBERDADE
Sábado, tarde do dia 21 de maio, Avenida Paulista: 
Quando a tropa de choque bateu nos escudos e, em coro, gritou CHOQUE! a Marcha pela Liberdade de Expressão do último sábado se tornou muito maior. Não em número de pessoas, mas em importância, em significado.
Foram liminares, tiros, estilhaços, cacetadas, gases e prisões sem sentido. Um ataque direto, cru, registrado por centenas de câmeras, corpos e corações. Muita gente acha que maconheiros foram reprimidos.
Engano...
Naquele 21 de maio, houve uma única vítima: a liberdade de todos.
E é por ela que convocamos você a aparecer no Vão Livre do MASP, sábado que vem, dia 28, às 14hs.
Não somos uma organização. Não somos um partido. Não somos virtuais.
Somos uma rede. Somos REAIS. Conectados, abertos, interdependentes, transversais, digitais e de carne e osso.
Não temos cartilhas. Não temos armas, nem ódio.
Não respondemos à autoridade. Respondemos aos nossos sonhos, nossas consciências e corações.
Temos poucas certezas. E uma crença: de que a liberdade é uma obra em eterna construção.
E que a liberdade de expressão é o chão onde todas as outras liberdades serão erguidas:
De credo, de assembléia, de amor, de posições políticas, de orientações sexuais, de cognição, de ir e vir... e de resistir.
E é por isso que convocamos qualquer um que tenha uma razão para marchar, que se junte a nós no sábado para a primeira #MarchadaLiberdade.
Ciclistas, peçam a legalização da maconha... Maconheiros, tragam uma bandeira de arco-íris... Gays, gritem pelas florestas... Ambientalistas, tragam instrumentos... Artistas de rua, falem em nome dos animais... Vegetarianos, façam um churrasco diferenciado... Moradores de Higienópolis, venham de bicicleta... Somos todos cadeirantes, pedestres, motoristas, estudantes, trabalhadores... Somos todos idosos, pretos, travestis... Somos todos nordestinos, bolivianos, paulistanos, vira-latas.
E somos livres!
Em casa, somos poucos.
Juntos, somos todos. E essa cidade é nossa!
Sábado, dia 28 de maio, 14hs, no vão do MASP, começa a 1a Marcha da Liberdade.

*Este evento não se opõe a qualquer outro já criado. Pelo contrário, soma e potencializa. Faça seu manifesto, convide as pessoas e vamos todos juntos*

http://twibbon.com/join/Marcha-da-Liberdade-2 - Campanha no Twibbon

http://twitpic.com/51y3n4 - Twitpic do Flyer virtual

terça-feira, 24 de maio de 2011

Sobre Cigarros e Amores



"E se eu não tivesse saído da cama naquela manhã gelada? Se por um acaso do destino eu não estivesse feliz e determinada? Se ao menos a roupa não tivesse ficado boa... Ou melhor ainda, se o dia fosse chato, se a melhor amiga fosse má companhia? Quem me dera eu não ficasse feliz e satisfeita a ponto de ir para casa sorrindo."

 Naquela dia o ônibus não se demorou a chegar, nem faltava um lugar para sentar. Felicidade quase completa. Se "quase" fosse uma palavra que me bastasse, mas não. Nunca fui impulsiva, mas naquele momento algo me fez saltar de prontidão do ônibus alguns pontos antes do meu. Eram quase umas oito da noite quando passei de um lado para o outro da avenida, coração entre os dedos suados e apertados, estômago revirando, breves vontades de rir, já não sabia mais o que era certo. Mas se ao menos o bom senso tivesse me levado para casa, onde apenas ficaria me perguntando se fizera a escolha certa. Porem, lá estava, na frente do seu prédio sem saber por que.

 Eu olhava para os números no interfone esperando alguns sinal, talvez um número da sorte ou uma luz na memória que me fizesse voltar à três anos atrás naquela noite extremamente parecida com a que eu me encontrava no momento. O que eu poderia fazer? Tocar em todos até encontrar o certo? Não seria muito normal, mas naquela altura quem era eu para julgar normalidades. Eu não sabia como seria encontra-lo depois de tanto tempo, nem como reconhece-lo, muito menos o que diria, mas não me importava nem um pouco, sabia que tinha que estar ali, sabia que minha vida mudaria por isso.

 Isso já faz mais de um ano, mas ainda hoje não consigo me recordar de quanto tempo eu fiquei ali na frente daquele prédio fumando mais de mil cigarros, roendo as unhas e tendo frenéticos ataques de risos incontroláveis. Pensei em espera-lo, eu o reconheceria? Ou melhor, ele se lembraria de mim? Da menina de 16 anos, que usava cabelos cumpridos e calça jeans e que hoje era dona de seu adorado cabelo curto e senhora de todo um estilo diferente, piercing no nariz e tatuagem nas costas?

 Entre um cigarro e outro eu me pegava ensaiando uma reação, o que ele diria, o que eu responderia, como explicar essa súbita aparição no meio da semana. Eu só poderia estar louca em achar que aquilo daria em mais alguma coisa a não ser em uma história engraçada que eu contaria para mim mesma milhões de vezes.

 Quando estava prestes a desistir e ir embora, talvez quem sabe tentar outro dia, ou nunca mais, esquecer aquela doideira de filme, de reencontro marcante, de amor; Como um sinal vi um rapaz que aparentava uns vinte e poucos anos entrando no prédio, sim, era aquela a hora de descobrir, de tentar, então com um ar de louca desvairada eu o perguntei se por um acaso conhecia um Fulano de Tal que morava ali. Que doce vida estranha, o rapaz morava com ele! Ora bolas! Então era isso? Eu finalmente consegui. Porem como nem tudo é realmente tão perfeito e cinematográfico, ele não se estava em casa ainda. Para que me queixar, eu já tinha conseguido e muito. Deixei ali apenas um rapaz muito assustado e meu número de telefone.

 A ansiedade de reencontra-lo deu lugar a ansiedade de chegar logo em casa, pensava eu que como uma boa filha da Lei de Murphy, ele ligaria antes de eu conseguir abrir o cadeado do portão. Dito e feito. Revirava a bolsa procurando a chave desesperadamente enquanto lá dentro o telefone gritava. O nervosismo me fazia rir desesperadamente em meio aquela situação. Quando finalmente consegui entrar, obviamente, o telefone já havia parado de tocar. Corri para ver a ultima ligação, não tinha como saber se era ele, apenas sabia que era um número desconhecido que provavelmente poderia ser. Provavelmente. Ligar ou não? Na pior, ou melhor, das intenções eu estaria apenas matando minha curiosidade. Enquanto o telefone chamava, meu coração na boca fazia meus suspiros gaguejarem. Eu não aguentei, desliguei depois da terceira chamada, confesso que estava parecendo de novo uma adolescente de 16 anos, mas o que eu poderia fazer, deixei por isso mesmo.

 Engraçado que quando deixamos de lado as coisas, elas simplesmente acontecem, talvez se eu ficasse ali ao lado do telefone ele não tocaria tão cedo, mas foi eu ir para o meu quarto e começar a me desfazer da meia-calça, da jaqueta, da esperança e do cachecol, que o telefone tocou novamente. Eu não me lembro de abrir a porta e atravessar o corredor até a sala para atender, só me lembro de atender tentando fazer uma voz de inesperada surpresa. Sim, sim, era ele. E para o meu espanto eu não precisei descrever muito quem era, ele já sabia, foi como ligar no dia seguinte do nosso primeiro e único encontro. Foi deveras engraçado. Tudo correu mais ou menos da maneira como eu imaginava, a menos pelo inesperado convite para encontra-lo naquela mesma noite, não titubeei, apenas gaguejei ao dizer que seria ótimo.

 Mais uma vez não me lembro de me vestir, pois também foi muito rápido. O ônibus não passava e tive a ligeira impressão que algumas pessoas que compartilhavam a espera junto comigo começaram a me achar um pouco louca... Ok, acho que muito louca, pois eu estava mais feliz que o normal, mais feliz do que é o aceitável de ser feliz em um ponto de ônibus. Dessa vez eu tinha tudo, o número do apartamento e a certeza de que o veria mais uma vez.

 Tentei me manter calma e agradável. Quando ele saiu pela porta do prédio eu pensei comigo: "Uau ele continua o mesmo". E com seu cavalheirismo e gentileza ele me reconquistou, talvez até mais do que quando leu um poema do Pablo Neruda na beirada da minha nuca. Sentados na mesa do bar foram cervejas, assuntos botados em dia, sorrisos, olhares, e todas aquelas formalidades de um flerte. Já não sabia mais que dia era, nem as horas e nem me recordava mais do tempo em que fiquei parada do outro lado da avenida. Não havia arrependimento, não havia mais nada além de um sentimento bom.

 Como nos cinemas, ele me convidou para entrar com o pretexto de ver um filme sobre o qual tínhamos conversado. Na verdade eu mal ouvi o convite, aceitaria tudo naquele momento, só não aceitaria me jogar do alto de um prédio em queda livre, pois aquilo eu já havia feito, me joguei em queda livre do seu olhar intimista. Não me lembrava muito do apartamento, apenas me lembrava do livro do Pablo Neruda que hoje está em alguma estante da minha casa. Eu não estava mais tão nervosa, não tinha mais por que, nada mais tinha por que.

 Sejamos sinceros, não conseguimos ver o filme. Talvez esse fosse meu maior medo, uma hora eu teria que baixar a guarda e deixar acontecer aquilo que era esperado. A situação era ideal, o momento era certo, ele ainda era o homem perfeito, me deixava louca com seus braços envolvendo minhas costas, seu rosto que por horas a fio eu ficava desenhando com a ponta dos dedos, e as palavras tinham o dom de desaparecer como se não fosse preciso falar nada. E não foi preciso. Minha alma congelava de prazer, era como dançar um bolero, você acha que não sabe mas quando ouve não consegue se controlar, era como se cada parte do meu corpo soubesse o que fazer. As mãos supriam aquilo que não era falado, os olhos iluminavam o quarto escuro e a pele era o único calor. Mais bonito que um poema do Neruda, mais gostoso que ouvir jazz, mais infinito que a madrugada.

 O relógio de ponteiro no criado mudo ao lado da cama, era só isso que ouvíamos por horas, ou sei lá quanto eu ficava recostada no seu peito, deitados na cama sentindo um sentimento que parecia eterno. Ele falava, contava histórias, ora triste, ora feliz, eu não sei muito bem sobre o que ele falava, eu apenas ouvia, não pela história, mas pelo som da sua voz. A madrugada virou manhã e o inconveniente despertador tocou as sete da matina, isso não acontece nos filmes.

 As noites viraram essa mesma rotina, esses mesmos devaneios. Ir para casa era torturante, quase um martírio, mas no caminho tudo tinha mais vida, as músicas faziam mais sentido, e as marcas no meu corpo ainda me faziam rir. Inspirada eu escrevia, ainda não entendo por que não contei essa história antes, talvez eu ainda não tivesse uma noção do final. Talvez até hoje eu não tenha essa noção, ou talvez eu tenha, só não entendo.

 Tempo, tempo, tempo, tempo. Algo começou a se transformar com o tempo. Talvez o bom senso tenha voltado para casa. Pena que foi para a casa errada. Um sentimento obsessivo tomava conta de mim, já não conseguia mais ser eu mesma, já não me baseava mais nas mesmas coisas, o brilho nos meus olhos me ofuscava. Sacrifícios como sair da minha casa a uma da manhã para encontra-lo, rendia-me a caprichos conforme a minha sede. A volta para casa já não era mais tão gratificante. A beleza foi se perdendo pelo chão do quarto, mais do que nossas peças de roupas que se misturavam no escuro na noite. Ainda me lembro de uma noite que fui caminhando até o mercado em frente a sua casa e enquanto esperava o ônibus para voltar o vi entrar, não sei por que, mas eu não tive vontade de atravessar a rua. Talvez fosse a companhia do bom senso.

 Em um madrugada qualquer eu fui até sua casa. Não fui feliz, naquela manhã eu acordara com a certeza de que teríamos um ultimo encontro. Teria sido melhor não ir, mas isso apenas adiaria o que já estava para acontecer a muito tempo. Fui para que se fosse acabar que pelo menos acabasse bem, se é que isso é possível. É, e não foi. Nessa noite não existiam duas almas na cama, apenas dois corpos gelados e incompatíveis. No final foi cada um para o seu lado, sem abraço, sem conversa, sem risos e sem sentimento bom. Em silêncio eu derramei algumas lágrimas, não sei se ele percebeu, mas mesmo que tivesse não haveria sensibilidade naquele momento, de ambas as partes. Minhas lágrimas não eram para ele, e sim para o adeus que não tem volta. Na manhã seguinte eu mal via a hora de partir, sofria mais na sua presença do que na distância física, de qualquer maneira já estávamos distantes. Ele me acompanhou ao ponto, e diferente de antes quando passados os últimos minutos grudados, ele disse adeus e virando a esquina se foi, eu subi no ônibus com um suspiro aliviado mesmo sabendo o sofrimento ainda estava por vir, e eu esperei.

 Ok. Chegamos ao fim, mas o final da história não é esse. Esse é o final do nosso, se é que posso chamar assim, relacionamento. Demorou muito para fechar as feridas, as do coração e as que ele me deixou nas costas, lembranças da ultima noite. Por um bom tempo foi difícil passar em frente ao prédio e não olhar procurando qualquer sinal da sua presença, até mesmo ir ao mercado me deixava apreensiva, eu poderia virar qualquer corredor e dar de cara com ele, qualquer música, qualquer poesia. Acho que o sofrimento é a parte mais brega do amor.

Demorou muito, mas um dia eu acordei de manhã e me dei conta. Fiz as contas e fiz de conta. É como dizem, no final você sempre ri de tudo, então relembrando tudo isso que aqui lhes contei, tomando um bom chá na mesa da cozinha eu dei uma boa gargalhada daquelas de doer a barriga e decidi ir ao cinema ver um bom filme como a tempos não fazia.
De lá pra cá muita coisa mudou, eu não moro mais na mesma casa, nem na mesma cidade, nem tenho o mesmo emprego, mudei o cabelo e eu ainda estou viva! Continuo me apaixonando todos os dias, me entregando, errando, aprendendo... sofrer é opcional. É como eu sempre dizia à ele: Vamos nos limitar apenas a viver meu caro, isso já basta!



Maya Costa (terça-feira 24.05.2011)