segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Semente e Fruto

"Tempos viverão em nós."

Com as mãos no teclado e o pé balançando o carrinho. É assim que eu me encontro no atual momento.
Fica um pouco difícil escrever, porque a cada três palavras que eu escrevo, o Bernardo resmunga. Hoje ele decidiu que, com nem um mês de vida, ele já é grandinho o suficiente para não dormir mais como antes. Portanto ele está aqui deitado no carrinho, chupando sua chupeta e vendo a vida passar.

Essa coisa de recém nascido cansa, não vou mentir. Mas achei que fosse mais pesado, mais puxado. Tem dias que é assim mesmo, tem dias que eu pareço um zumbi e normalmente nesses dias banho e escovar os dentes ficam em segundo plano. Por um milagre do destino, eu consegui arrumar meu cabelo, mas não sei se conseguirei repetir essa proeza tão cedo. Bernardo mama que nem um calango seco do deserto, tem dias que eu acho que vai sair leite em pó dos meus peitos. E junto com o leite lá se vai a minha energia, sendo sugada por esse pedaço de gente. Eu estou cada dia mais magra, e creio que quando chegar nos seis meses eu estarei uma vareta de magra, serei apenas peitos enormes!
No mais, não posso reclamar muito, ele dorme bem a noite, tem um pouco de dor de barriga as vezes, mas nada assustador de arrancar os cabelos. Meu bebê é um anjo.

E eu? Bem, eu me sinto cada dia mais leoa, mais protetora, mais ciumenta. Já sou capaz de sentir saudade dele em um curto espaço de tempo, e chega a dar sangue nos olhos quando alguém faz uma coisa com ele contra a minha vontade. Tá aí uma das vantagens de ser mãe solteira, é do jeito que você decidir e pronto, não tem mais ninguém com autoridade maior ou igual a sua para te contradizer.
Que conste também que eu estou recuperando a minha vaidade, aos poucos. É difícil se desapegar da imagem de mãe, e lembrar que ainda existe a Maya Mulher, de desejos, vaidades e sonhos. Aos poucos as coisas vão se encaixar com mais certeza e eu poderei voltar a ser a boa e velha Maya de sempre, ou não. 

Quando ao assunto Mr. Pai, evitarei o máximo possível. Meu sentimento de posse é maior que qualquer pensamento racional de "Que bom que ele quer ficar perto", quando eu quero distância. Afinal, eu passei por tudo sozinha até agora, a gravidez não foi nenhum mar de rosas, psicologicamente falando, sem contar o descaso e a desconfiança. Nada me tira da cabeça que o Bernardo é MEU filho, apenas. 

Fora isso, vamos bem, muito bem! Caminhando, ouvindo boa música e esperando um futuro melhor e mais cheio de brincadeiras. Não preciso nem dizer que ele está cada dia mais lindo, mais gostoso, mais delícia e mais tudo de maravilho que uma mãe coruja pode achar. 

Termino essa postagem ainda com as mãos no teclado e o pé balançando o carrinho. E ele bem acordado e atento a tudo. Que seja sempre assim! 

Maya Costa


TIRA-TEIMA
Bernardo Vilhena

Tire a faca do peito
e o medo dos olhos
Ponha uns óculos escuros
e saia por aí. Dando bandeira

Tire o nó da garganta
que a palavra corre fácil
sem desculpas nem contornos
Direta: do diafragma ao céu da boca

Tire o trinco da porta
liberte a corrente de ar
Deixe os bons ventos levantarem a poeira
levando o cisco ao olho grande

Tire a sorte na esquina
na primeira cigana ou no velho realejo
Leia o horóscopo e olhe o céu
lembre-se das estrelas e da estrada
Tire o corpo da reta
e o cu da seringa
que malandro é você, rapaz
o lado bom da faca é o cabo

Tire a mulher mais bonita
pra dançar e dance
Dance olhando dentro dos olhos
até que ela morra de vergonha

Tire o revólver e atire
a primeira pedra
a última palavra
a praga e a sorte
a peste, ou o vírus?




Nenhum comentário:

Postar um comentário