"Bernando é quase árvore,
Seu silêncio é tão alto que os passarinhos ouvem e vem pousar no seu ombro."
-Manoel de Barros
Meu caro Bernardo:
Como pode seu silêncio ser tão alto que até me doem os tímpanos? Há tempos que seu silêncio mórbido e despreocupado ecoam dentro de mim. Nem ao menos um sinal de vida. Sequer um telegrama com palavras comedidas, que queiram me dizer algo que eu não sei bem o que é.
Confesso que tentei saber de ti, acompanhar teus passos, porém meu orgulho e amor próprio me seguraram. Ainda bem, não é mesmo? Soube do necessário, não mais que isso. Soube que anda na mesma com aquele velho amor. E que ela ainda anda na sua rua, no seu carro, na sua casa, na sua vida.
Sabe Bernardo, às vezes o coração dói.
Às vezes não.
Falo pelo meu coração, por que apesar das duas mulheres compartilharem o mesmo nome, e as vezes até você, somos pessoas diferentes. É uma pena que as vezes você se esqueça disso. Aí o coração dói.
Outro dia desses me peguei não pensando em você, foi bom sabia? Mas ai tocou aquela música em francês e foi inevitável, você tomou conta. Tudo bem meu caro, daqui a pouco eu esqueço.
Só estou escrevendo essas palavras, que podem parecer de lamento, e algumas são, para te lembrar que eu ainda estou aqui sabia? Não demore para dar notícias pois já não sei como cheguei aqui e nem quanto tempo mais vou aguentar escrevendo cartas que não serão ao menos enviadas.
Dane-se. A mim pouco me importa. E pelo visto a ti também não. Mas tudo bem meu caro.
Às vezes o coração dói.
Às vezes não.
Nada que uma aspirina, um novo amor e uma cachaça não resolvam.
Com carinho, sua eterna sabe-se lá o que...
-Maya Costa
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