quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Arrancando Páginas Dentro de Mim



Sempre invejei a capacidade de apaixonar-se que ela tinha.

Lolla apaixonava-se com a mesma capacidade que desapaixonava-se. Todos os dias ao se levantar cultivava seu rito mais sagrado, café e cigarro. Sentava-se na varanda ensolarada e ali por dez minutos ou mais permanecia criando desenhos mirabolantes com as espirais de fumaça que saiam do cigarro. Filtro vermelho, sim, Lolla sabia viver a vida. Xícara jamais, caneca. Ela sempre dizia que não confiava em gente que não gostava de Chico Buarque e que tomava café em xícaras. Era cheia de manias e maneiras de fazer as coisas. Um gole de cigarro e um trago de café. Posso dizer que se tem uma coisa que eu aprendi com ela, foi que devemos nos apaixonar pelo menos três vezes ao dia, "É saudável!", dizia Lolla com um sorriso quase infantil estampado no rosto. Tudo para ela era capaz de ser humanamente possível e fácil. Não havia limites quando o assunto era amor. Tenho que confessar que algumas vezes essa mania de estar sempre de bem com o amor me irritava, mas hoje eu vejo que ela, mesmo com um ar de irresponsabilidade, podia não saber o que estava falando, mas sabia muito bem o que estava fazendo. O relacionamento mais longo de Lolla durou um mês se não me engano. E você deve estar pensando: Ela não entende nada de amor mesmo. Pois é, por algum tempo eu cheguei a pensar a mesma coisa, mas hoje eu percebo que não é o tempo que dura uma relação que pesa o quanto ela foi importante e feliz, e sim a intensidade com que é vivida. Lolla sabia viver uma relação, por mais efêmera que ela fosse. Sabia aproveitar cada segundo do lado de uma pessoa que muitas vezes ela mal conhecia. Aos olhos dos outros eles eram um casal de tempos atrás, em uma relação estável e segura, mas na verdade ele era apenas um cara pra quem ela sorrio despretensiosamente(ou não). Sair a noite com Lolla era quase como ir para Las Vegas, tudo acontecia, da maneira mais inesperada possível. Ah e como ela era amada por todos. Alguns mal sabiam seu nome, apenas sabiam que era ela, a dona de uma beleza incrível que vinha de dentro para fora. Lolla era o que chamamos de pessoa popular. Não por seus feitos heroicos  nem por seu sofrido diploma na USP, muito menos por sua brilhante carreira-relâmpago como modelo. Ela era popular pelo simples fato de ser ela, da maneira mais insuportavelmente linda. Um ponto que reluzia nas calçadas sujas da Rua Augusta, onde alguns a chamavam de Axl Rose de saia. Não me conformava como Lolla tinha o direito de escolher com quem terminaria aquela noite, e o que mais me impressionava é que ela não planejava, não procurava, mas tinha a maldita certeza que não dormiria na sua cama naquela noite. Lolla jamais levou alguém para dormir na sua casa, isso pra ela devia significar alguma ligação mais forte, menos prazerosa e mais contratual, eu acho, não sei, nunca tive tempo de lhe perguntar. Ela nunca fez diferença entre homem ou mulher. Sua melhor resposta era quando alguém lhe perguntava "Você é hétero, homo ou bi?", Lolla respondia: "Eu sou feliz!". Coincidência ou não, tempo depois que Lolla sumiu, alguns bares até fecharam. Até hoje entre amigos nós comentamos como ela faz falta, como ela era a luz das noites quentes de verão, como era bom subir a Augusta demasiadamente bêbada e escorados uns nos outros. Sem Lolla só há manhãs sóbrias, cafés adoçados de mais, bares fechados, cervejas quentes e procuras desesperadas por um motivo para se alegrar.

Vez ou outra eu me pego olhando para o meu reflexo no espelho e perguntando: Por onde andará Lolla?


-Maya Costa

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