quinta-feira, 22 de março de 2012

Nada Era O Que É.



Hoje ao despertar pela manhã, já tardava no relógio a uma da tarde.
Ao acordar, não abri os olhos de supetão, acordada permaneci com os olhos ainda fechados. Me preocupo muito com a primeira visão que eu terei no meu dia. Carrego comigo a estranha mania da Alice de pensar em pelo menos seis coisas impossíveis antes de me levantar da cama, por que creio eu que assim nada que aconteça no meu dia será tão impossível quantos as que eu imaginei. Antes de me levantar também gosto de relembrar algumas coisas que eu sonhei durante a noite, é como lembrar de um filme que você gostaria de ver novamente. Talvez seja um jeito de não acordar, ou talvez seja um jeito novo de morrer.

O dia não pode começar sem café e cigarro, o meu melhor café da manhã. Recosto-me na varanda ensolarada acompanhada dos velhos companheiros, fico por ali divagando pensamentos, letras e linhas que vão se derramando vagarosamente como aquela gota de café na borda da copo. A fumaça do cigarro descansado no cinzeiro desenha junto com  os raios do sol imagens que só eu posso ver. Esse torna-se então o momento de maior prazer do meu dia. É como se cada pedaço do meu corpo fosse um gato acordando lentamente, cheio de manha e de prazer. E só aí então, sinto-me plena. Plenitude passageira, mas plena em um todo!

 Meu dia se resume em cafés, cigarros e algumas breves paixões. Procuro me apaixonar pelo menos três vezes ao dia. Mesmo que eu não saia de casa, mesmo que nada mude, mesmo que eu permaneça na varanda ensolarada até que sol se ponha. Acredite, é saudável apaixonar-se, mas não se esqueça de desapaixonar-se também. Breves paixões não podem sair do País das Maravilhas. Você pode encontrar um navio afundado com um rico tesouro dentro, mas não pode leva-lo para casa, se é que me entende.

 E assim vou morrendo de prazer cada dia mais. Apaixonando-me quantas vezes for preciso pelos mesmos sorrisos, pelos mesmos olhares, por poesias rimadas e palavras repetitivas. À mim meu caro, pouco me importa que sejam breves. São breves, mas são infinitas. Sou capaz de apaixonar-me e desapaixonar-me pela mesma pessoa mais de cinco vezes na semana, de corpo e alma lhe juro amor e ódio, pão e carne, água e vinho.
 Morro nessa inércia deliciosamente surpreendente.



Maya Costa

Ficando Velha e Louca



Eu sempre quis um homem culto, que colocasse Cartola pra tocar na vitrola enquanto fumasse um cigarro de filtro vermelho. Que tivesse o cabelo bagunçado, usasse chapéu e falasse de Sartre. Sabe aquele tipo encantador? Daqueles que eu as vezes eu vejo andando pela Vila Madalena, chapéu de lado, jeitão meio largado e dando aquela voltinha no bigode estilo Salvador Dali. Era tudo que eu queria.
Mas aí um dia, eu descobri que esses homens só são isso, e nada mais.
E o pior, elas não são bons o suficiente pra mim.
Por mais palavras difíceis que eles falem,
Por mais discos de vinil que eles colecionem,
Por mais filmes do Woody Allen que eles assistam,
Não faz a menor diferença.
Acho que as vezes aquilo que a gente mais sonha, na verdade, não foi feito pra gente.

Maya Costa

terça-feira, 6 de março de 2012

Do Lado Esquerdo

05/03/2012
02:26


Não sinto meu prazer.
Estou preso em minhas próprias nuvens de fumaça 
com os olhos imersos na nicotina, 
aguardando minha próxima bacia de café
tendo esperança de que a tragam com um sorriso no rosto.
Não sinto meu prazer.
Meus falsos júbilos já não me satisfazem.
Não há espaço na casca de alguém com o coração preenchido de lágrimas que se negam a cair nem ao menos uma vez
pelo cansaço de ter de enxuga-las novamente com os mesmo dedos calejados.
Esse mesmo tempo esse mesmo coração grita,
A MAS COMO GRITA!!
Grita em outras línguas o desejo de ser reanimado 
para que possa parar de bater apenas por funções mecânicas.
Somente meu segundo coração, 
que ainda ora e o acaricia através de sussurros diz:

"Pior que perder pra morte,
é perder pra vida!"


Eu sei que serei a deixar a agonia descansar no trilho do trem,
mas até lá, traga-me pra vida, 
traga-me...


Para você, amor.
Guilherme Würtz