Sabe aquela história toda de amar, de não pensar em mais ninguém, de não querer mais nada a não ser estar com aquela pessoa? Aquele calor gélido na boca do estômago, os sorrisos inesperados e bem quistos, a inquietação do corpo e da alma. Todas essas coisas rotuladas por amar. Eu não creio mais. Mas houve um tempo em que todos acreditavam, até mesmo eu. Me lembro como se fosse ontem daqueles velhos rotos sonhos, das palavras nunca antes pronunciadas. Um tempo bom, onde todos sabiam crer. Com sol ou chuva, não importava, tudo era motivo para Carnaval, mesmo sabendo que a quarta-feira de cinzas estava por vir.
São as músicas que nessa época faziam mais sentido, eram de entendimento claro, entoando notas nunca dantes tocadas. Há quem diga que nunca mais ouviu notas como aquelas. Eu, por exemplo, nunca mais ouvi. Porém ouvir, é diferente de escutar, e escutar é opcional do coração.
É como ver um quadro e admirar uma obra de arte, é como sentir o gosto das coisas ou degusta-las, há um sutil abismo entre uma e outra.
Acordo todos os dias desejando escutar, admirar, degustar. Me deleito das tardes relembrando o quanto era bom esse tempo de tamanha beleza. E por fim, recosto a cabeça pesada de sonhos no travesseiro implorando para que nunca mais sinta nada parecido com aquilo. Na manhã seguinte permaneço na inércia infinita de manhã, de tarde e de noite.
Lembro-me de um tempo em que o cinema era para mim o maior refugio de pensar. Tarde de terça-feira, sala quase que vazia, cabeça quase transbordando, roda o filme e tudo se esvai.
Na saída um encontro com os velhos amigos, café e cigarro. No escuro da sala vazia ficavam pensamentos soltos, leves, desorientados e sem qualquer sentido. Ali jazia uma angustia qualquer.
Faz tanto tempo. Não sei se um ano ou dois, enfim, não quero saber, já basta saber que dói a tantos esquecidos. Ainda mantenho aquela estranha mania de reler e-mail antigos, de guardar aqueles trapos da época e de ler sempre o mesmo livro de poesia no meio da madrugada.
Maya Costa (24.06.2011)